-Não.
-Por que não?
-Porque já o vimos.
Antes de prosseguirmos no desenvolvimento desta afirmação, vamos, por um tempo, nos lembrarmos que quanto mais longe olhamos na direção das estrelas, mais para o passado estamos vendo as coisas, pois a luz leva um tempo para chegar aos nossos olhos. Assim, quando mais distante é um astro a ser observado, mais antiga é a sua imagem, pois estamos vendo como ele era e não como ele é.
Poderíamos concluir que, quanto mais poderoso fosse nosso instrumental, mais perto da imagem do Big Bang estaríamos e, então, seria uma questão apenas de aprimoramento técnico para chegarmos exatamente à imagem primordial.
Vamos classificar evento: Um evento é um acontecimento.
Para nos auxiliar nessa experiência de pensamento, vamos ver o que é um evento.
Evento é acontecimento que só pode ser sentido uma vez.
E é lógico isto; todos sabemos até intuitivamente o que é um evento.
Se este, qualquer, evento parece estar se repetindo é só aparência mesmo; será outro acontecimento semelhante, não aquele; só isto.
A Seta do Tempo indica que vamos sempre em frente, de modo que, se uma coisa foi vista, ela não mais se repetirá na sua forma física. Você pode rever a imagem de um evento, mas somente em filme; as consequências daquele fato só fizeram modificações no cotidiano naquela vez, no momento da gravação, em única vez, e não toda a vez que o filme é repassado.
E um filme precisa ser gravado no momento daquele fenômeno que consideramos um evento, e isto é bem claro. Bem claro mesmo, porque não podemos passar um filme de um evento se durante os fatos não houvesse uma câmera, ou um olho, ou um olho e um cérebro para memorizá-lo.
E qual foi a câmera, e qual foi o olho e o cérebro que estava presente no momento da grande expansão?
Qual foi? Qual foi! Ora, o nosso olho! O nosso! Fragmentado em íons, em subpartículas, em qualquer coisa infinitesimal que pudesse estar junto com todas as outras pré-coisas daquele momento; mas era o nosso olho.
Assim, estando todos presentes, evento do Big Bang já foi testemunhado, o evento aconteceu para nós.
Podíamos estar de costas, mas estávamos lá. Éramos rigrososamente parte dele. E não há memória daquele momento. E, como dito anteriormente, o evento passou.
E não mais podemos ter a informação, por que informação é o resultado útil da manipulação de dados imediatamente disponíveis, que, se conscientemente relacionados, levam à análise e a possível compreensão do que tais fragmentos até então desordenados poderiam nos dizer.
Assim, sem os fragmentos, não temos qualquer possibilidade de informação.
Finalmente, se observar os astros antigos for o mesmo que capturar registros fósseis do Big Bang, se sob aparato conveniente pudéssemos surpreender a criação do Universo, um verdadeiro paradoxo seria posto à nossa frente: o de ver nossa própria criação!